Abro a gaveta mais próxima e tateio: procuro algum amigo, um cigarro, talvez um amor, uma pétala de rosa... ou um retrato. Tanto faz, só procuro algo que não seja minha intensa vontade de viver. É de imensurável felicidade ter seu primeiro suspiro consciente pela manhã fresquinha e poder sentir o sol colidindo nas nuvens que toda noite sonho poder tocá-las, desfrutando da mais intensa emoção que alguém possa ser submetido. Os raios deste magnífico sol brotam entre as frestas da janela e apalpam meus olhos ainda fechados, dos quais torrencialmente vertem lágrimas ao se depararem com a rica criatura que dorme ao meu lado. Ainda não consegui descobrir o que há de melhor: se o som aconchegante dos lençóis se amarrotando que ela provoca, se aspirar seu perfume toda manhã ao som dos pássaros que rasgam lágrimas de chuva desse céu ou sentir sua pele branquíssima e efervescente encostando na minha. Ouço um click e sinto um flash penetrando meus olhos.
Fecho a gaveta e escondo o retrato lá, lá no fundo, bem debaixo das cartas não entregues. Viso ocultar toda essa parte do passado que desconfio nunca ter pertencido a mim. Ah, a felicidade nunca me pertence. A felicidade me visita bem às vezes e me entrega sorrisos ainda tímidos, mas sempre parte. Tenho receio em novamente procurar qualquer coisa, seja um amigo, seja um cigarro, um amor, uma pétala de rosa ou um retrato. Tanto faz, da próxima vez procurarei algo que não seja minha intensa vontade de morrer. Ouço um click e vejo uma lembrança assombrando meu coração.
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