Amnese, em Sofia e os Vermes nos Jardins de Réia.
Apatheia, que significa "tudo aquilo que afeta o corpo ou a alma", tanto quer dizer dor, sofrimento, doença, como o estado da alma diante de circunstâncias exteriores capazes de produzir emoções agradáveis ou desagradáveis; paixões. Assim, apatheia tanto pode significar ausência de doença, da lesão orgânica, como ausência da paixão, das emoções.
18 dezembro 2009
Sofia e a Curva do Céu
"Sofia abre os braços para mim e finalmente eu consigo enxergar: para o mundo eu não sou nada, para o mundo eu não existo, eu não passo de um verme. Eu sou um verme!"
05 dezembro 2009
# 8
Vezemquando eu até me poluo com sua desgraça. Talvez num destes dias eu desista. Vezemquando eu até desisto; vezemquando eu até resisto.
30 novembro 2009
22 novembro 2009
# 6
A alegria demasiada que demonstramos reflete na excessiva tristeza que está oculta. Nunca demonstrei alegria demasiada, mas o que é excessivo ainda existe.
09 novembro 2009
# 5
Deus? Procurei-o, procuro-o. Nunca o encontro, nunca aparece, é discreto como sempre, é timido igualzinho a mim.
08 novembro 2009
07 novembro 2009
# 3
Deitar, fechar os olhos para ver seu interior em busca de alguma resposta e apenas encontrar o vazio significa não conhecer a si próprio. Conhecer a si é o básico; se tu não sabes o que és, seja falsa e ou verdadeiramente, não saberás o que a vida tem de pior a ceder.
Simplificando de forma errônea, vê-se que a vida é dividida em dois extremos, ambos dos quais são assaz ruins de encontrarmos, pois um é tão perverso quanto o outro. Por isso que para tudo nesse fracasso denominado vida há o equilíbrio.
Alguns mortais encaram a vida sorrindo demasiadamente - e estes a levam como uma brincadeira, tornando-os palhaços de seu próprio circo solitário e moribundo -, outros chorando ridiculamente – levando suas respectivas existências dignas de uma exaustão massiva. Há também aqueles que são cruéis por natureza - tão cruéis que o ponto culminante de sua história é aquele em que há o de pior reservado -, e outros que são bons e tolos - aqui percebe-se o quanto estes sofrem de maneira abusiva no decorrer da trama apenas para reservar um curto espaço de felicidade, aquele momento em que, no leito da morte, fechará os olhos e terá uma simples ilusão de um deus estendendo sua mão e o acolhendo para um paraíso. Há os que amam e são amados – e acabam tornando-se escravos de um sentimento que, assim como qualquer outra coisa, irá sucumbir à persistência do doloroso final, pois tudo nessa vida tende a abortar-se -, e há, também, pessoas que apenas odeiam e são objetos do ódio, não possuindo o amor a si próprio, fazendo de sua existência uma batalha interminável e que, mesmo reconhecendo a inevitável derrota, fará a desgraça abatê-lo aos poucos, consumindo-o segundo por segundo, lágrima por lágrima, suspiro por suspiro.
Muitos neste mundo se encontram amando, e por isso tornei-me mais uma parte do equilíbrio.
# 2
Abro a gaveta mais próxima e tateio: procuro algum amigo, um cigarro, talvez um amor, uma pétala de rosa... ou um retrato. Tanto faz, só procuro algo que não seja minha intensa vontade de viver. É de imensurável felicidade ter seu primeiro suspiro consciente pela manhã fresquinha e poder sentir o sol colidindo nas nuvens que toda noite sonho poder tocá-las, desfrutando da mais intensa emoção que alguém possa ser submetido. Os raios deste magnífico sol brotam entre as frestas da janela e apalpam meus olhos ainda fechados, dos quais torrencialmente vertem lágrimas ao se depararem com a rica criatura que dorme ao meu lado. Ainda não consegui descobrir o que há de melhor: se o som aconchegante dos lençóis se amarrotando que ela provoca, se aspirar seu perfume toda manhã ao som dos pássaros que rasgam lágrimas de chuva desse céu ou sentir sua pele branquíssima e efervescente encostando na minha. Ouço um click e sinto um flash penetrando meus olhos.
Fecho a gaveta e escondo o retrato lá, lá no fundo, bem debaixo das cartas não entregues. Viso ocultar toda essa parte do passado que desconfio nunca ter pertencido a mim. Ah, a felicidade nunca me pertence. A felicidade me visita bem às vezes e me entrega sorrisos ainda tímidos, mas sempre parte. Tenho receio em novamente procurar qualquer coisa, seja um amigo, seja um cigarro, um amor, uma pétala de rosa ou um retrato. Tanto faz, da próxima vez procurarei algo que não seja minha intensa vontade de morrer. Ouço um click e vejo uma lembrança assombrando meu coração.
19 julho 2009
15 março 2009
"- [...] Claro, falar de um modo tímido, respeitoso e apaixonado; dizer que estou morrendo sozinho, que ela não me rechace, que não há maneira de conhecer qualquer mulher que seja, sugerir-lhe que é até mesmo um homem tão desgraçado como eu. Enfim, tudo o que peço é tão-somente que me diga uma ou duas palavras fraternas, com simpatia, sem me repelir logo no primeiro passo, que acredite em minhas palavras, que ouça o que vou dizer, que ria de mim se quiser, mas que me dê esperança, que me diga duas palavras, só duas palavras, mesmo que nunca mais nos encontremos!... Mas a senhorita está rindo... Aliás, não é para menos...
- Não se zangue, estou rindo porque o senhor é seu próprio inimigo."
- Não se zangue, estou rindo porque o senhor é seu próprio inimigo."
Fiódor Dostoiévski, em Noites Brancas, logo após Sonhador ter encontrado nos olhos de Nástienka a infelicidade disfarçada de amor.
06 março 2009
17 fevereiro 2009
09 fevereiro 2009
"Ferminza Daza estava na cozinha provando a sopa para o jantar, quando ouviu o grito de horror de Digna Prado e o alvoroço da criadagem da casa e depois da vizinhança. Atirou a colher de pau e tratou de correr como pôde com o peso invencível da idade, gritando feito uma louca sem saber ainda o que acontecia debaixo da copa da mangueira e o coração lhe estourou em estilhaços quando viu seu homem estirado de costas no lodo, já morto em vida mas resistindo ainda um último minuto à chicotada final da cauda da morte para que ela sua mulher tivesse tempo de chegar. Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento:
- Só Deus sabe o quanto amei você."
Gabriel García Márquez, em O Amor nos Tempos do Cólera.
31 janeiro 2009
"Mas lembrar-me daquela ofensa, Nástienka! Erguer uma nuvem escura sobre a sua felicidade clara e serena; levar tristeza ao seu coração, acusá-lo e fazê-lo amargar um remorso secreto, obrigando-o a bater tristemente num momento de júbilo; pisar uma só das flores ternas que adornarão suas madeixas negras quando for com ele ao altar... Oh, nunca, nunca! Que seja claro o seu céu, que seja luminoso e sereno o seu lindo sorriso; abençoada seja você pelo momento de júbilo e felicidade que concedeu a um coração solitário e agradecido!
Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira?..."
Fiódor Dostoiévski, em Noites Brancas, logo após Sonhador ser repelido por Nástienka.
Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira?..."
Fiódor Dostoiévski, em Noites Brancas, logo após Sonhador ser repelido por Nástienka.
13 janeiro 2009
04 janeiro 2009
02 janeiro 2009
"Dizem que o sol anima o universo. O sol vai nascer e - olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres por toda a parte. Há somente os homens, e em volta deles o silêncio - essa é a terra! "Homens, amai-vos uns aos outros" - quem disse isso? de quem é esse mandamento? O pêndulo bate insensível, repugnante. Duas horas da madrugada. As suas botinhas estão junto da cama, como que esperando por ela... Não, é sério, quando amanhã a levarem embora, o que é que vai ser de mim?"
Fiódor Dostoiévski, em A Dócil.
Fiódor Dostoiévski, em A Dócil.
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